Sou um apreciador de artigos em via de desuso. Ópera, poesia e mulheres sem curiosidade bissexual.
Um deles é o disco, o LP propriamente dito. Acho estranho o consumo musical feito através de downloads, imateriais, sem capa, sem encarte, sem espera ansiosa. Como tantos prazeres, descobrir uma canção hoje tende ao casual, dadas a enorme oferta de música, a facilidade e a pressa que temos em consumir.
Obviamente, sou um ouvinte produzido pela segunda metade do século 20. Antes de jogar pedras em quem desfila seu iPode, recuo e lembro que meu hábito também foi estimulado pela industria. O setor fonográfico primeiro se apresentou através de compactos – que, sim, fizeram história na música – até que surgiram os long-plays e, aí, forma determinou conteúdo. Espertos, os Beatles entenderam o disco como espaço para o conceitual no pop e assim, até abandonaram os shows.
(Salvo engano, o movimento contrário, o conteúdo estimulando a forma, só aconteceu nos anos 1980, quando o presidente da Sony decidiu que o CD deveria ter 75 minutos para que um único disco contivesse a “Nona Sinfonia” de Beethoven.)
E a evolução não para. Depois que o Radiohead deixou que os fãs escolhessem o preço do disco em mp3, a banda decidiu lançar singles virtuais. Foram três canções no espaço de duas ou três semanas, todas razoáveis; nada ruim, mas nada impressionante. O resultado é como um amistoso da Seleção Brasileira: pode até ser o melhor time do mundo, mas quem presta atenção?
Não seria diferente o impacto caso viessem juntas com outras ansiosamente esperadas? Por extensão, será que, diluídos em “fascículos semanais”, os discos do Radiohead teriam feito a história que fizeram?
É, amigo, diria Galvão Bueno.
A verdade é que somos adaptáveis; acostumamo-nos com os formatos oferecidos – principalmente quando exigem menos concentração. Uma geração inteira já se formou mirando o hit em mp3 e desprezando todos os minutos dispensáveis que o acompanhariam em CD.
Nessa encruzilhada, o álbum de 10 a 12 músicas só se justifica se servir de suporte para um painel sólido, que necessite de mais espaço do que três minutos. O que pode fortalecê-lo como produto cultural, ainda que menos massificável (tudo bem, livros também são para poucos), ou torná-lo mera plataforma de pretensões – exatamente como álbuns duplos e triplos do passado.
(Márvio dos Anjos, Meu destak)
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
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